sexta-feira, 26 de dezembro de 2014


pupilas abertas
portas e caminhos
há nesse castanho
estranha morada
que habito
sem pudor
sinto-me
em casa
íntima
te percorro
em segredo
enquanto recolho
os verbos
e desejos
por ti esquecidos 
para escrever 
o que só deve existir
em poesia. 

(...)



bloco de notas

você saiu da minha vida
e eu não escrevi um poema
se quer
que pena



...


agora do jogo
bem me quer
teu nome é apenas
uma palavra
cruzada.

domingo, 21 de dezembro de 2014

barco

ando mergulhada na escrita
palpitando
em palavras
como se pudesse medir
as profundezas da gente


(...)
mas não
nelas apenas
navego
nado.
tive alguns sonhos
que se confundiram
em lembranças
tornando-se memória
de algo que fui
outrora
perto do mar
estava
cheia de desejos
e espaços
entremeios
poderia ouvir as batidas
de um coração
que não meu
alheio
pulsando
incerto
batendo
para entrar
pelas portas de meu ouvido
num sussurro
assustei-me
mas era só o vento.






(...)


de repente
é apenas o silêncio
em minha companhia
rondando entre os meus pés
ranjo os dentes
penso em sua vinda
seria o tempo de um cigarro
ou de um café
um suspiro


mas já é tarde
e ando cansada de visitas.



https://www.youtube.com/watch?v=UReXSSe1abE





sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

onde termina
a linha
da minha pele
e começa a sua?
pelas costelas
pernas
cintura
há algo que parece
junto
enlaço
mistura

de minha garganta
e sua voz
o rosto
insinuoso
atroz
minhas mãos
ou suas?
meu corpo do seu
que ponto
ou vírgula
separa?
não são os olhos
é o resto
de você
que me invade
inteira
como um mar
turbulento
sou tragada
por suas ondas
oferenda
de sua boca salgada
e profana
suga-me até o sumo
até não deixar mais nada
apenas a saudade.


terça-feira, 16 de dezembro de 2014

atônita
viajo em teu tempo
de espera
sob os meus olhos
que refletem os teus
boba
sinto como se perdesse
o fôlego
toda trêmula
enquanto
minhas têmporas
vermelhas
brilham
em fogo
por tua doçura insana
refletida em mim
como espelho
chamas
sou tua
imagem
mais pura
por tuas pupilas
vista somente a distância.

domingo, 14 de dezembro de 2014

segura-me
pelas mãos
deixa-me
ser guiada
em teus rodeios
vira-me
do teu jeito
assim
desvirada
para virar
o começo
de nossa caminhada.

https://www.youtube.com/watch?v=Wtwq7lVqCSIo

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

é sexta
embriago-me de poemas
por ora
o éter
é da palavra
passo os dedos sob as páginas
de ana cristina cesar
desfolho tua escrita
como se fosse íntima
de tua presença
que pela noite
faz-me companhia
em silêncio
mastigo
toda
sua
poesia.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

o desejo
não pede licença
ou desculpas
invade
ultrapassa
transborda
corpos
paisagens
o desejo
não mora:
se instaura
habita
e demora
em sem tempo
necessário de fome
desejo não fala:
grita
não tem cor
cheiro
ou nome
o desejo se espalha:
multiplica
contamina em sua doença
e não sacia
é feito sede
pulsa na garganta
e saliva
é o dono
e sua cria
é o instante
o nervo
a carne
a vida.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

escreverei
até quando secarem
as letras
ou a tinta da caneta
e todo o resto de mim
serei o torso
do papel em branco
aberto ao outro
que o lê
de forma mais límpida
e clara
a poesia de minha língua
ardente
em fogo
derramada
sem pudor
em teu corpo
também
em chamas
e deixar queimar
até voltar
as cinzas
soltas na terra
para então
florescer
em palavras.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

há os sonhos
em montanhas
de desejo
sob
meu corpo
ensejo
o ensaio
de palavras
cruas
entre as pernas
cruzadas
e por
instância
revelo os segredos
todos mofados
pelo tempo
enquanto escuto
a música de tua
boca
maldita
e tão necessária
como o seu todo.
às vezes é
preciso a urgência
do tempo
no encontro.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

querer estar
ir
e voltar
abrir-se em lados
dispersos
para os desejos
do universo
como um jogo
de dados
acaso
sou um
peão
girando
de tua mão
para o mundo
numa brincadeira
infinita.

em teu silêncio
noite
sou cheia
de presença
das mais
e tantas
estrelas
que coleciono
em meu quarto
vigiado
pela insônia
atenta
ao meu corpo
faz-me companhia
em segredo
confesso sonhos
que tenho
guardados junto
ao seio
como amigas
íntimas
que se encontram
embriagadas
de éter
prezo
por tua companhia
enquanto atravesso
devagar
em silêncio
as intimidades
da madrugada.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

meu corpo
também
performa
dis
forma
mente
ressoa
em tudo
sinto
os nervos
todos
à flor da pele
do osso
in
forma
de gosto
e tato
tudo vive
pulsa
dentro
e fora de mim.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

quero fechar todas as janelas
do meu corpo
e ficar só
não importa a paisagem
de fora
quero contemplar
o que vive dentro
insólito
enquanto danço
sozinha
de cortinas fechadas
de olhos
girando
em palavras
com meus vestidos rodados.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

borboletas

há borboletas
foto de Elena Helfrecht
presas
na parede do estômago
todas coloridas
envolto
ao meu corpo
dentro
borboletando
em cima
até os pés
voando
soltas
ou coladas
nas costelas
há algo
em meio
e por isso
escrevo
por não suportar os sonhos
de tantos em mim
há algo que precisa
sair
e voar fora
embolo
há muito
no entanto
escrevo
há algo de mim
que só nasce
por escrito.

canção marítima

dos mares que não provei
de tuas espumas brancas
e salgadas
serei todo o azul do mundo
na imensidão de tuas ondas
como água-viva
ou estrelas
que queimam em distâncias
na pele
serei apenas o momento
a instância do horizonte
serena e breve
a paisagem do mar aberto
em seus braços de som
e beleza. 
por toda sua música
rugido de fúria
como não
o mergulho?
sem medo
navego em tuas profundezas. 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

gosto de ler os anúncios
nos postes
esquinas
"jogo búzios
cartomancia
trago-te de volta
melhor do que era
e mais bonita"
a saudade de outrora
o santo batiza
rememora
traz logo
em velas acesas
e flores
num prazo de três dias
santo, santo
pra mim 
tua profecia
faz da rua
 poesia. 


insisto
e escrevo
vicio
sorrateiro
que tira-me o sono
como quem sente fome
da palavra
minto
e escrevo
tudo o que gostaria de soltar
mas hesito
releio
as páginas brancas
de tinta preta
marcas de café
no papel
amanheço
em silêncio
da pausa besta
calada
sou as reticências
da frase inacabada.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

esqueci o meu nome
sinto tê-lo perdido
na esquina de casa
no entanto
sinto-me muito mais
do que antes
sou-me
sumo
a toda ora
instante
não reconheço meu rosto
em espelhos
retratos
e estantes
perdi o meu nome
segredo
vivo um outro destino
paradeiro
daqueles que esquecem
intermitentemente o mais íntimo
de si
por um tempo
sem pressa
meu rosto
ocupa a cidade
toda
as ruas
e vivo nelas
todas pessoas
a velha do ônibus
a menina
a moça
para depois
reconhecer-me:
lembrar de um outro lado
o avesso, o resto
o meio
daquilo tudo que me nomeia
poeta

correr
até o limite
fundo
de tudo aquilo
que vive
inquieto
até os pés
cansarem
do chão
e voarem
na altura
de qualquer sonho
incerto
e sem medo
de tocar
o desconhecido
apenas correr
até o limite do corpo
comer vento
atravessar segundos
o próprio tempo
escorregar de si
e do outro
ser
correndo
virar alma
criar asas
ser o suspiro
sem passado
ou futuro
percorrer apenas
o momento
da eterna
viagem.

sábado, 8 de novembro de 2014

aos sonhos
de tantos desvarios
derramados
por seus olhos
sombrios
aos prantos
de cor
serei sombra
em qualquer morada
de paisagens
perdidas em redemoinhos
de minha mente
sem memória
ou dor
posto que passeio
limpa e clara
como página
vazia
sem impressões
por ora, sou
tinta branca
insólita
nova
toda crua.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

recolho-me às palavras
vivo
todos os meus ciclos
abertos em espirais
concretos no espaço
tempo
de todo o meu corpo
e letra
que tornam-se
quentes
juntos
todo o desejo
da alma
dos sonhos mais selvagens
que trago soltos
voando fora
cavalos ao vento
na estrada
longa
que percorrem
leves
quase ausentes
fantasmas
em passos de poeira
e eu
pasma
trêmula
distantemente


observo pelo lado de fora
o furacão intenso
que vivo
dentro.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

do amor ao verbo

quando a palavra
for solta
por minhas mãos
até a boca
despejarei poesia
em água
como fontes
doces
termas
das linhas
até a gargante
aberta
selarei breve
em pontos
vírgulas
de sonho
para tornar leve
o peso dos ombros


sentir deixar o corpo
e ser apenas
poema.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014


hesitar ao ler
qualquer verso
pela noite inteira
que de meus sonhos
se abre em lua
diante da janela

hesitar ao ler
e por isso respiro
aguardo o silêncio
anunciado pela madrugada

hesitar ao ler
confesso
ando mexida por estranhezas
escrevo

hesitar ao ler
as palavras
tão inevitáveis em meu paladar
ávido e seco

hesitar ao ler
e esperar a próxima página
enquanto admiro
o puro do branco
da folha vazia
e aberta.

é nessa imensidão
que mergulho.



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

enquanto teus olhos horizontes
se abrem
para todo o mundo
consumo
o perto
sumo do presente
em fruto passado
pensando
em teu corpo
longe
e aberto
para as vistas
sinto
feito brisa ou frestas
de uma paisagem
deserta
distante
em meu pensamento
já de ti tão longínquo
perdido e incerto
sem tua bússola.



é preciso antes
todo o silêncio
para sentir
o estrondo
do voo.

domingo, 12 de outubro de 2014


eu
minha metade
ou toda
inteira
talvez não tenha
mudado

sigo ainda
a figura taciturna
dos velhos retratos

a dança cega
que de desejo
se faz melodia
da palavra
que persiste
e caminha
pelos poros
em arrepio.

o estorvo
a loucura
tempos remotos
daquele poeta
que tapou-me os lábios
com tuas mãos
sujas de tinta

em meu corpo
por tua caneta
por ora
tatuado
esqueço
teu nome
e o verso
de outrora
fazendo-se
mudo
passado
com os anos

e eu
escorregadia
vacilante
perdida
em minha
memória
entrego-me
aos meios
inícios e finais
de nossa
já empoeirada
história.




quinta-feira, 2 de outubro de 2014

vem outubro
e a melancolia
de outrora
cubro
disfarço
na aurora
do riso largo
amanhecendo
junto ao azul
do dia
que no seu fim
clareia na lua
dos escorpianos
é outubro
que chega
anuncia
o prenúncio
do calor
dos corpos noturnos
desvairados na noite
e seu brilho
festa na rua
samba de esquina
o copo sem dono
perdido
é outubro
que em teus lábios
pronuncia
o princípio
do veraneio
bandido

domingo, 21 de setembro de 2014

abrir as janelos do peito
e ventar
fora do corpo.

ponto
vírgulas
em meio
verso
da insônia
regresso
a companheira
das noites
espia
pensamentos
no fundo
do muito
que guardo
dentro
de gavetas
e botões
suspiros
em tua
presença
atônita
atenta
em tempo
de um poema
que escrevo
antes do retorno
à cama
e a cabeceira.

uma tarde setembro



a alma
veste-se de corpo
enquanto
toca o mais alto
do seu afeto
aberto em flor
de primavera
conto em silêncio
os pingos de orvalho
das árvores despindo-se
do inverno
puras
de minhas copas
agora
frondosas de frutos
escuto
todo som do mundo
em sua paisagem
de movimento.

sábado, 20 de setembro de 2014

aos estranhos da cidade

perdidos
para-choques
com frases de amor
enfeitam estradas
em quilômetros 
gastos 
de silêncio
e rastros
pelos outros
percorridos
postos de gasolina
moedas soltas
sorte encontrada
nas escuras ruas
de noites paradas
feitas para almas
nuas
solitárias
que no momento
de um acaso
fazem-se companhia

na cidade
inabitada.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

bruxa

destemperada
a garganta
aberta
canta
todo o sentimento
de um grito
solto ao vento
como pássaro selvagem
negro
eu,
a mulher sem destino
paradeiro
desato,
os meus cabelos
para para todo
o calor
envolto
tormento
com quem se prepara
para o salto
dado em fogo
ao léu
movimento-me
em frente ao tempo
torno-me
por ora
arrebatada em pranto
queimada em fogueiras
de segredos
ressurjo nova
pulsando
com a minha carne viva
quente
exposta
ardendo.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

o meu tempo é outro
está aquém
acompanha o andar dos velhos
e se esconde na poesia dos cantos
quem me dera, por ora,
enxaguar as lentes
ou janelas
daqueles que não vivem
a beleza tornada na pedra
do chão
no pixo do muro
na vagareza do olhar
quando abraça o outro
em encontro
é preciso deflorar o mundo
por inteiro.
quando a noite é clara
e meu peito acorda
respiro toda canção
que levo dentro
para soprar fora
em outros tempos
na pausa
no sonho
pela chuva
contra
tempo
num sussurro
molhado
reverso
ofereço
no contra
fluxo
fora do tom
o inverso
a voz que por aqui
mora
em silêncio
mas, que no entanto,
se espalha
contra
vento
no além
de qualquer moldura.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Do cotidiano ao verso



entregue à distância
e a sua medida
demora a presença
o espaço longo
da memória
no papel escrita
os passos ausentes
ou no café
daquele que aguarda
e esfria
enquanto a tarde
paira azul
em seus cantos de silêncio:

...
o meu tempo
incerto e vago
por interferências
não lamenta mais os atrasos
momento que rasgo
no relógio
com paisagens rotineiras
reticências abertas
para qualquer epifania.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Antropofagia

correr fundo
tocar-te
por inteiro
como se pudesse
apalpar o mundo
por tua boca
peles
pelos
ultrapassar
os poros
cheiros
torna-me-ia
parte de ti
e tua
carne
seria minha
em
com
partilhamento
ou in corpo
ração
seria tu, eu
e tudo
num só momento.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

escrevo
pois sei que me lês
em segredo
no quarto
silêncio
desfolha
as palavras
do verso
apalpando
com olhos
minha história
sem a tua
reverso
do gosto
de minha pele
que agora pulsa
sem mais memórias
tuas.
escrevo
e minto
enquanto lês minha confissão
em teu lugar mais íntimo
olhos de voyeur
mastigação
sou a escrita
mulher
de tua imaginação.




eterno retorno.

eu
que fui
e já não sou

eu
que venho
e  vou

ela
a que para
e continua

ambas
todas
em mim
criaturas

vagueiam
por meu corpo
hospedeiro

de tantas
sou uma
muitas
todas
minhas
tuas
e quando sentir o outro cheiro
que não meu
exalando da pele até os ossos
selarei
breve as palavras ditas
em meus pelos
como se guardasse
a saliva
dentro do corpo.
em banho intenso
lavando
os órgãos
ossos
despregando
o cálcio
retorcendo nervos
tornando limpo
e claro
o que trazia
no escuro
teus passos
tua sombra
meu refúgio.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

serei breve
indolor
não revelarei
os versos que
guardo junto
ao seio
e a respiração
passo somente
como um presságio
de minha poesia
errante
mastigada pela saliva
que molha o corpo
em absorção
quente
de tua língua
em minhas letras
que secam sem cheiro
aterradas ao papel
e a pele
ânsia
sede
da palavra
consumida
até o sumo.


quarta-feira, 6 de agosto de 2014

tessituras
de poesia
noite à dentro
em teu bucho
de estrelas
que perfuro
com as unhas
e entro
brilhando
ardendo
em sua luz
e breu
de lua
eu,
extasiada
de longe
nas alturas
vejo as palavras
abertas
como flores
e traço
as fissuras
os espaços
respiro
toda graça da pausa

...

e depois retorno
para o poema
em silêncio
iluminada




quarta-feira, 30 de julho de 2014

Vestido

o meu vestido,
que por ora se torna
uma página virada
por seus dedos
de prosa
como um tanto
de suspiro e conversa
presos no bordado
de pano
em afeto
é que não sobra
mais distância
entre o desejo
e o tato,
que se sente
perto.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

acordei arrancando estrelas
uma a uma
perdidas nos cabelos
no corpo
entranhadas
é que a noite
às vezes em delírio
passeio
à deriva
caminho no sonho
e depois volto
cheia de céu
no rosto
com gosto de noite
pelo beijo da lua
enamorada.

terça-feira, 22 de julho de 2014

há algo de febril
no ato de escrever
álcool
que levianamente pousa
nas letras e pulsa
a poesia presa
nas retinas do sonho
febre
que escorre
pelos vazios do corpo
e os excede
transpondo
o limite do verbo
aberto por seu torpor
escapam as palavras
de seus sentidos
tontos
loucura de babas espessas
brancas ondas
num desvario exausto
da escrita embriagada
molhada no papel
há algo que exala
no ato de escrever
odor que paira
no quarto
na sala
éter suave
do suor da poesia
que em ti
repousa.

.






terça-feira, 15 de julho de 2014


habito agora
o espaço oco
dos pontos
mais miúdos
os detalhes
como hiato
mudo
lançado em seu tempo
de espera
em pausa

...

atravessada
por dimensões
gradientes
pequenas
num mergulho
imersão
escuro do ventre
da manhã calada
que rasgo com os dentes
e amanheço

é que ando mexida
por certas estranhezas
e tudo agora
soa claro:
um cigarro aceso
queimando sem boca
as buzinas soltas
sem os carros
e os volantes
minha mente andarilha
sem rosto
desfocada na noite
meu sussurro de flauta
para tua orelha quente.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

fui areia
das miudezas
a toda imensidão
do grão em companhia
como corpos resplandecidos
de sol
inteira
penetrada
fundo
pelo vento
em seu esplendor
de beleza
fui terra
quente
serena
de todo o silêncio
como esposa selvagem
do mundo
tocada
da pele até o útero
pelas cores
de sua natureza
rompante.





quinta-feira, 3 de julho de 2014

do inferno astral
reverso
ao universo
meu caos
também estrelado
de muito aquilo
que vivo no corpo
desmedido
desmensurado
é que as mais diversas
multidões que em
mim moram
me atravessam
em explosões
ou como luzes
também vistas
somente
na distância
sou uma
e tantas
de uma constelação
desorganizada
avessa
corro
volto
giro fora de órbita
assim
em tanto excesso
que transborda
o espaço calculado
do mapa.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

na estrada

para derreter
nas curvas de uma estrada
longínqua
perdida em sua visão
na qual os olhos
já não acompanham
os seguimentos
do pulso
em ritmo lento
correndo
para todo o longe
e deserto
de sua imensidão
que se abre
a cada caminho
de terra.
é o que mapa do destino
que se faz traçado
por sua longitudes
e não mais
pelos passos
todo o aqui e agora
de um voo
que acontece
somente
por sua presença
vibrando no espaço.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

polifonia noturna


linhas invisíveis
trazem todos
os meus instintos
longínquos
tecendo-os
perto

junto ao meu colo.
recolho-os
um a um
como sons perdidos
de outros cantos

costurando
em desejos
as tantas vozes de mim
posto que agora
sou coro

vagarosamente
suspiro
o silêncio deixado
pela passagem da lua
por minha face
por hora
rubra.

porque hoje sou
tantas
mulheres
criaturas
habitadas na pele
de uma.











domingo, 1 de junho de 2014

confidência

os versos
de pecados
cicatrizados pelo tempo
entregues
aos teus olhos
abertos
que como
bichos vivos
correm
sobre a
minha pele

leio para ti
em voz alta
engulo a saliva
respeito as pausas
e respiro
em alívio
de teu corpo
entregue
à escuta

como uma confissão
feita às claras
sinto a voz trêmula
junto ao eco de tua presença
ressoando no peito

teus ouvidos se tornam
agora
as páginas brancas
de minha poesia
herege.

sábado, 31 de maio de 2014



em todas as entradas
que permanecem
abertas do corpo
sou dessas
desflorada
pelo jazz
música que
pelos poros
se adentra.
e no começo da noite
de dança embriagada
embalo
os pés
aos ruídos
do piano
que me toca inteira
ao som do improviso.

https://www.youtube.com/watch?v=ne8XQRBm_Gw

quinta-feira, 29 de maio de 2014

gosto de me recolher
e no silêncio
ser levada
ao som
do que movo
por dentro

vozes
motores
órgãos
nervos

há muito
o que se ouvir
em silêncio
quando a memória
gira
acordada

conversa
nua
íntima
e velada.


para Fernando e sua tabacaria


para aqueles
donos de minhas palavras
não ditas
de suspiros
soltos em versos
volto
repleta
por tua escrita
poeta
a todos os encontros
sagrados
que marco
ao desconhecido
por ti
sou achada
presa
em tuas entrelinhas
tecidas
em minha língua,
a qual, por ser tímida
escondo
em tuas facetas
de pessoa.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

dos pés
até a boca
o que sustenta
os ossos
e a pele
é toda a altura
que sem asas
percorro.

como o verbo
escorrido pelo suor
com os dedos
desenho
a paisagem
da janela

vejo o instante
presságio
de meu voo.
miragem
reflexo
ao meio
lá sou perto

aqui
respiro
distante.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Fulgor

ontem
prenha de luz
banhei os pés
de sol
em caminhos
de sombras
alastrando
outros focos
em pegadas
como se fosse
apanhar os céus
todos furados
por meus dedos
e fúrias
enjauladas
que solto à meia luz
repletos
do maior azul
parto
gritando
a gravidez ensolarada
para banhar
o espaço
do caminho
que segue até o horizonte
e de amarelo
toda banhada
sinto o êxtase
e me calo.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

por uma má educação

Fui educada para ser uma boa menina. Desde cedo nos ensinaram as diferenças entre as boas e as podres laranjas. Nos foi passado as maneiras de andar, falar e sentar.  "É preciso manter as pernas fechadas e ter postura."
"Ninguém suporta faladeiras."
"Gostamos de sorrisos."
"Cara feia é de fome."
Tem quer ser bonita e bem penteada, sem muito cabelo ou pelo fora do lugar. "Que coisa feia uma menina tão bonitinha com a boca tão suja".
"E olha bem como se veste, nada de exageros".
"Não saia descoberta, assim não tem respeito."
Dizer não com os dentes cerrados por um sorriso engolido é negar a boa educação. Correr até o limite é quebrar o muro que edifica a "boa moça".
As "más filhas" escolhem os caminhos ainda inabitados. Ardem em suas próprias dúvidas diante do desconhecido.
Há ainda aquelas que se atiram no escuro dançando em furacões, e giram.
Porque a visão é afetada agudamente na pele. E o fedor de certas angústias engolidas por tantas bocas crescem em cada casa, sala de aula, ou recanto onde nada mais pode ser tapado. E por isso exala tóxico.
Encontramos os riscos de uma "má educação", a qual não aceita rédeas e que por isso muitas vezes se espatifa. E retorna, como uma "boa má educada". Segura e trêmula por suas quedas e voos.
Deliciosas vertigens.
É que eu desejo que as boas filhas cuspam o gosto do verbo para dizer "não" de forma pura, para que este salte dançando livre de suas línguas, a fim de perturbar as bocas, os ouvidos e os olhos tapados.


sexta-feira, 2 de maio de 2014

"redemoinhos violentos que revolvia de antemão suas fibras"



" redemoinhos violentos que revolvia de antemão suas fibras". reler os escritos de Artaud é como reencontrar uma parte adormecida no corpo. uma voz solta e trêmula perdida nas entrelinhas. um soco roxo que doía, mas que agora só permanece em marca. um olhar dentro das raízes da alma. há algo que é tão nosso, mas que é esquecido. e deixamos lá em algum canto, empoeirado entre o osso e o nervo, que só depois de contorcido volta a gemer. por que esquecemos o gosto? o cheiro? onde metemos tudo? e depois soltamos, de uma vez só. assim, dedo na goela, vômito.

e lembramos-nos.
reencontramos-nos.
...

parece que somos íntimos e estranhos a nós mesmos.  e que é somente por meio da torção da pele do outro, que encontramos a nossa. curioso paradeiro,  uma espécie da catarse às avessas.



segunda-feira, 21 de abril de 2014

canto noturno

há muito mais azul
que escuridão
nas calmarias
de fins de noites
cheias de outono
cujo pássaro solto em meu peito
baixo voa
sob todos os pensamentos,
descobrindo-os
com o seu bico
piando
os segredos
espia aquilo
que por dentro
me reverbera
inteira
pássaro negro
em teu canto
sorrateiro
observa
em tuas doces plumas
meus devaneios
como tuas presas
abocanhe
e depois de satisfeito
parta
para libertar
o que estava preso
vomitando por tuas asas
em chamas
as minhocas de fogo
perdidas em minha cabeça.





quarta-feira, 9 de abril de 2014

suspensão

à deriva
vejo os meus sonhos
todos desvirados
como roupas
penduro-os em varais
suspensos
e longínquos
impalpáveis.
respiro
cedo
estendo as mãos
ao relento
cheiros
e gostos
como se pudesse
alcançá-los.
mas apenas miro
distraio-me
vendo-os ali
postos na alta madrugada
aguardo,
sentindo-os perto
e eles em estrelas
pendurados
sento-me
preparando o salto
impulso
para caminhar até as lonjuras
da madrugada.

quarta-feira, 12 de março de 2014

escritos mofados

Os versos que
levo guardados
presos
em folhas já amarelas
de mofo
naftalina
que exala da gaveta,
dos escritos
tão velhos
e enrugados
de letras tortas
fedorentas
gangrena
inflamada
por dentro,
como ar que  se respira
e não solta
é a palavra que se guarda
e que não vinga
ou brota
murcha dentro da pele
seca
amarga
cicatrizando por fora.
todas as reticências
silenciadas
envio-te
tardiamente
para que sejam ouvidas
mastigadas
por tua boca
muda
e feroz.


domingo, 23 de fevereiro de 2014

beleza espiral

volto
pelo meio
início e fim
de todos os verbos
passagem
retorno
retornelo.
há doçura
em todos os rasgos
do caminho traçado
fissuras,
já passei?
volto?
por todos os começos
já tão velhos
que continuam
expostos
abertos
novos
processos
vida
desdobrada
espiral
que me pega
e solta
leva
e trás de volta,
como lembrança
revisitada.


terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Espelho inverso

temo ter perdido
minha imagem
que dissolve
grave
no gosto da língua
meu rosto
pouco torto
míngua
bota-me como miragem
do que sou
e mira:
a pele
que se desfaz
toda engolida
crua
por minha garganta
ávida
lívida
engulo-te
meu reflexo
todo
não,
não sou tua cria
estou à margem
sou a outra
contrária
jamais vista.

domingo, 19 de janeiro de 2014

transfiguração

habito as palavras
como quem deposita o corpo
sob outro.
quentes,
em silêncio somos
todo o respingo
o suor
torpor
encontro.
ou sou habitada
de tal forma
pelos versos
poesia
casa
que faço de ti
roupa
coberta
de minha nudez
já toda
rasgada.

agradecimento especial para Camila Duarte, doce poeta, a qual intitulou o poema.