sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Respiração



Existo porque escrevo
e não mais me atrevo
a respirar sem, de fato,
ser
ou existir.
Como falar de minha existencialidade
se ele cresce e escapa
de minhas cavidades
fazendo-se emergir
de meu mais fundo âmago
para todos os lados?
Acabo por me desdobrar em peles sob peles
E te toco agora sem que possa perceber,
Ou permitir,
Te atravesso em dobras porque me misturei às coisas
e a você.
Transbordo porque atravessei o limite da distância
entre o ser e o sonho
Pois ao passo que respiro,
me faço
ou me recomponho
em forma de viver.
É oxigênio.
É poesia:
elixir e veneno.
É o sonho
Pois o que a é vida, senão um atrevimento?
Posto que outrora eu respirava mas não vivia,
me atreverei, então,
A respirar só quando eu quiser viver.

sábado, 1 de outubro de 2011



Para que o mundo me abra com suas mãos grandes e sedentas é necessário antes cuspir tudo aquilo me invade, ao mesmo tempo em que ele me segura e me levanta pela cintura, mostrando a sua boca escancarada.
Vou me desfalecer dissipando o grito de todo o corpo que geme, ouvindo o barulho vermelho do topo da boca do meu estômago que não a cala a boca, que vibra em toda a pele.

Sinos tocando, aqui tudo vibra e ressoa enquanto os lábios permanecem cerrados. Irei pertencer ao mundo me esvaziando ao máximo. Fluxos de ar contornam todos os meus órgãos e vou me dissipando vagarosamente em gritos de ar, sendo aberta em dores pelo mundo que me abre, me divide e me prova. Trata-se de uma diagnóstico maduro da demência:

transtorno - de - destorço- compulsivo. Sem - retorno - possível.

E vão me abrindo, me revertendo os órgãos sem permissão. Estão tentando fechar a boca do meu estômago, tentando colocar o coração no devido lugar. Mas alguém, por favor, pode avisar que não há remédio que dê beleza à matéria disforme? Porque o coração é parte de um todo que geme, pulsa e dilatada em toda a minha carne deformada e demente que luta obsessivamente - pela cura e não cura dessa anomalia.
E esse paradoxo não é um quadro reversível.
Acostumam-se (ou não) em encontrar o meu coração em minha orelha, no couro do cabelo, na lasca da unha ou no meu sangue mensal. É aqui que onde resido, pertenço. Não há plural: orelhas, cabelos ou unhas, posto que é um todo único e inseparável, matéria substancial de mim.

Sou a dilatação disforme daquilo que não se encaixa, de natureza apta ao deslize. Por isso passo, vagueio e não moro.

Continuam me invadindo as vias e me abrindo. Estou em estado de fluidez, correntes de ar me penetram pressão quase irresistível. É o mundo que bate e quer morar em mim.....

Devo permitir?