quarta-feira, 30 de julho de 2014

Vestido

o meu vestido,
que por ora se torna
uma página virada
por seus dedos
de prosa
como um tanto
de suspiro e conversa
presos no bordado
de pano
em afeto
é que não sobra
mais distância
entre o desejo
e o tato,
que se sente
perto.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

acordei arrancando estrelas
uma a uma
perdidas nos cabelos
no corpo
entranhadas
é que a noite
às vezes em delírio
passeio
à deriva
caminho no sonho
e depois volto
cheia de céu
no rosto
com gosto de noite
pelo beijo da lua
enamorada.

terça-feira, 22 de julho de 2014

há algo de febril
no ato de escrever
álcool
que levianamente pousa
nas letras e pulsa
a poesia presa
nas retinas do sonho
febre
que escorre
pelos vazios do corpo
e os excede
transpondo
o limite do verbo
aberto por seu torpor
escapam as palavras
de seus sentidos
tontos
loucura de babas espessas
brancas ondas
num desvario exausto
da escrita embriagada
molhada no papel
há algo que exala
no ato de escrever
odor que paira
no quarto
na sala
éter suave
do suor da poesia
que em ti
repousa.

.






terça-feira, 15 de julho de 2014


habito agora
o espaço oco
dos pontos
mais miúdos
os detalhes
como hiato
mudo
lançado em seu tempo
de espera
em pausa

...

atravessada
por dimensões
gradientes
pequenas
num mergulho
imersão
escuro do ventre
da manhã calada
que rasgo com os dentes
e amanheço

é que ando mexida
por certas estranhezas
e tudo agora
soa claro:
um cigarro aceso
queimando sem boca
as buzinas soltas
sem os carros
e os volantes
minha mente andarilha
sem rosto
desfocada na noite
meu sussurro de flauta
para tua orelha quente.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

fui areia
das miudezas
a toda imensidão
do grão em companhia
como corpos resplandecidos
de sol
inteira
penetrada
fundo
pelo vento
em seu esplendor
de beleza
fui terra
quente
serena
de todo o silêncio
como esposa selvagem
do mundo
tocada
da pele até o útero
pelas cores
de sua natureza
rompante.





quinta-feira, 3 de julho de 2014

do inferno astral
reverso
ao universo
meu caos
também estrelado
de muito aquilo
que vivo no corpo
desmedido
desmensurado
é que as mais diversas
multidões que em
mim moram
me atravessam
em explosões
ou como luzes
também vistas
somente
na distância
sou uma
e tantas
de uma constelação
desorganizada
avessa
corro
volto
giro fora de órbita
assim
em tanto excesso
que transborda
o espaço calculado
do mapa.