sexta-feira, 27 de janeiro de 2017



provisório fulgor
das coisas
fugidias
amor
que é fogo imparável
e incendia
as camas
os sonhos
comendo vorazmente
corações
e os seus donos
até não não deixar mais nada
só o caroço
que não é vazio
oco
porque se torna morada
de um corpo
repleto de desejos
abertos
para a ponte invisível
que cresce até outro
sensível
ensejo
labareda
de um efêmero e tão forte
incêndio
...





quarta-feira, 25 de janeiro de 2017



eu não sou a mais bonita,
na verdade
a beleza que escondo nos cantos de qualquer memória
me foi concedida por outros olhos
modos
formas e janelas
que mantenho incessantemente abertas
porque no fundo,
me queriam bonita
mas não sei ser
e já não posso
porque sou do interior e criada na merda de vaca
e escrevo
ou por não ser comedida
porque guerreio com minhas pernas
atravessadas
o caminho itinerante que não me permite tal beleza
esmero
realezas
de uma coroa que sento e rebolo
jogo fora
entre todas, as meninas
não serei escolhida
para o altar,
festas chiques
aristocráticas
desculpa, mas não faço o tipo
sou essa
verborrágica
toda errada
e sem rumo certo
a que diz não
e basta;
mas
ainda assim
mesmo apesar de tudo,
de suas bulas, e controles, receitas,
que contra luto
de papeis que mastigo
e engulo
talvez eu apareça, numa fotografia antiga
para um possível futuro
quieta
sentada de lado, com um meio sorriso escancarado
fingindo que compadeço
pertenço
a sua modalidade,
ao vestido,
mas não, jamais
eu não faço
o seu número.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

esta aqui agora,
sentada sob o próprio corpo
cansado
repousa sob suas próprias pernas
do voo
um pouso
uma pausa
para cada suspiro do dia
que cai lentamente
para dar o lugar à noite
esta aqui agora
somente
cruza seus braços
repousa a cabeça
para assistir o espetáculo
monótono do fim do dia
porque é bonito e basta
porque a beleza
diária
é besta
e,
rara.

...



segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

escritos de verão

E se por acaso os sons da rotina não passassem demasiadamente devagar, como encontro dos nossos olhos. Ou se fossem um pouco menos mornos, e mais quentes, como as tardes de janeiro. Talvez, assim, na velocidade dos minutos, que teimam em passar devagar sob nossas retinas, janelas e horizontes... Eu poderia hesitar menos a cada mergulho, pois pesaria junto ao relógio, que queima as horas das tardes quentes e tão repletas de suor.
Gastaria mais tempo com poesia, ou com prosa besta. Dessas que invento quando falo com as plantas ou vizinhos, diluindo-me  com tempo para não me desfazer só. Para ser ele, também. Para não ser sozinha.
Então, poderia dizer que minha finitude se inicia no fim das pequenas coisas, por mim ainda não experimentadas. Ainda. Todas. Em doses homeopáticas de tédio e ternura. Assisto o entardecer de borboletas tépidas em seus voos de graça. Logo, em meu suor e presença assistiria pausadamente o falecer dos segundos, pairando em minha língua ávida. Porque viverei dessa forma até ultrapassar a borda do silêncio, da minha pausa. Experimentando suavemente os gostos do mundo, o qual se abre a cada caminho que vivencio nas trajetórias de um corpo lançado ao leo. É porque gosto muito e não pouco. Gosto tanto, e sempre. Das tardes e noites de janeiro.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

metade carne
outra de fome
esse ser eu,
já sem nome
perde-se em cada rua, esquina,
em dedos de poesia ou prosa,
na vida
nos encontros
sou
ou estou
por ora,
num ritmo constante
de minha pura impermanência.
















segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

chego em casa,
passo o café
rego as plantas
vejo a paisagem
até diluir-me com ela
enquanto o dever pede
somente letras de trabalho
meu papel, todo em branco e translucido
se consome na poesia da tarde morna, aberta pela janela.
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