quarta-feira, 31 de agosto de 2011


Vejo curvas, mas não reconheço formas. O presente me passa levemente pelos os olhos e me seca a boca, mas agora começo a entender como funciona esse mecanismo atormentador da espera.

Viver agredindo a espera é doloroso, já que levo em consideração o fardo que carregamos uma relação eterna: eu, a espera e a vida. E já que é assim, talvez seja minha hora de ceder e dizer: “tudo bem, eu espero.”
É um exercício curioso.
Mas com passos ainda amadores, aceito devagar o prazer que me é cedido aos poucos.
Voltei a contemplar e isso é bonito.
Fico assim, em estado de contemplação...
vendo o presente que me passa pelos olhos e me seca a boca. Tomada por curvas de calor. E por esses milagrosos momentos de ondas quentes e movida por ondas de sentimentos bonitos, sou capaz de aceitar a espera ao meu lado.Sem enfrentá-la. Porque a pouca certeza que tenho sobre sua natureza, me diz que suas ondas de calor podem ser geladamente vis. A espera é capaz de conduzir ao desvario qualquer pedaço de vida com seu hálito gélido.
Assim, tento construir uma relação simpática, ou curiosa, até porque uma sólida amizade, seria uma piada.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Não basta disfarçar a fome
ou prender os cabelos
tapar a mancha com os dedos.

Não há como fugir de seu nome.

A fome não se cala
as unhas crescem embaixo da terra.
Assim como a ferida dilata
e inflama a cada primavera.

É o seu próprio senhor e escravo.
Sua trajetória é seu sangue.
Sua pele é seu mapa.
De um corpo-caminho
e solitário.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011


Há dois anos criei esse blog. Apesar de todas as crises que tenho com ele, de achar que isso aqui é uma bobagem narcisista ou pensar que na verdade é um espaço desnecessário, estou feliz com o aniversário. Aqui tem mentira e verdade, viagem e ceticismo, mas tudo é sincero na medida do possível. Gosto dos meus amigos que aqui freqüentam e gosto de imaginar olhos estranhos que por aqui passam. Considero essa página simples e intimista. Relendo o que escrevi consigo reviver tantos momentos: paixões, fúrias, sonhos e desejos. Enfim, quero ver até onde a água da pé.

Mirela Ferraz

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Que o desejo seja incansável
e que as mãos sejam olhos abertos
ao inefável:
lugar onde as palavras não chegam,
pois não há sentido,
ou significado.

Então,
Quando as minhas mãos
se abrirem para ver
e tocar:
O que não sei,
O que não conheço,
Trarei pelo verbo
a voz que ainda me é
Invisível.