segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

quando fui outra

quando fui outra
em teu corpo
que vestia-me 
inteira
cabia dentro
e mais um pouco
sobrava
dos contornos
até a cabeleira.
quando fui outra
e não essa,
salivava
sem temor
todo o gosto
ardia
era fogo
água,
tormenta.
quando fui outra
e já não sou
metia-me o medo
enfiado nos braços
abertos para as colinas
engasgada pela altura
sonhava
não caía.
quando fui outra
e não me lembro
confundia-me 
com a sombra
o eco
pois eu era em ti
toda a lembrança
e a ausência
surrada junto ao vento.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

tempestade
dentro
e fora.
destruidora
em seu esplendor
és beleza
estranha
para um corpo
cansado
que gostaria
de dançar
ao teu lado,
e nu.
mas há
inchaço
espera
tremor
ou paralisia
junto aos trovões.
rompante
meio tempo
abro a janela
arrebatada,
estática,
sou plateia

balbucio
diante de ti
apenas
um risco:
o susto
prenúncio
de um poema.