quinta-feira, 11 de outubro de 2012

prelúdio


cigarras anunciam a primavera
como se em mim cantassem
flores guardadas
à espera.
ei de repousar o corpo
como quem deita
sob os escritos inacabados
de um poeta
que ultrapassam minha pele
para serem meus
enquanto reparo nas gotas
faz  chuva
e a tinta escorre
mancha
em mim
as palavras
de suas gavetas
doravante
minhas
letras
registros
da marca
entreaberta
só faz
florir.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012


fazer do meu corpo a cartografia
de desejos
daquilo que é o sempre
constante
e tão inalcançável
a fim de rastrear
ler
o desconhecido
em mim habitado
tornar concreto
o impalpável
da semente
da essência
calcular a distância
de um ponto até o outro
a fim de escolher caminho
para dentro
do abismo
ao espiral infinito.
mas é possível saber
quando tocamos o limite?
se o sempre inalcançável
torna-se por ora
cabível
e no segundo instante,
torna-se novamente
incalculável
ei de medir o meu tamanho
que desconheço
para escolher o meu destino?
pois não há como medir
o fluido
do rio interno
que corre em minhas margens
ei de debruçar rumo ao sentido
Ser, de fato, toda a  paisagem
ir,
voltar
permanecer
pedra
porém sem sua qualidade estática
porque quebro-me com a força da água
triturada pelas linhas
ir além
de diversos pontos de meu mapa
codificar os rastros
em
Pele. 
Pedra.
Água.
sou
criatura
feita pelas partículas
que navega
em seu movimento
de tão pequenas
medidas
faço do trajeto invisível
a meus olhos
que se tornam também,
cegos e inundados
no fluxo
interrupto
serei íntegra
ao mundo
quando todas as pequenezas
se tornarem 
absolutas
pelo seu conjunto
meus fragmentos 
serão areias
no lugar dissolvido
desconjuntado
que será meu corpo
inúmeras
e cada vez
menores,
minúsculos
pontos
como letras ilegíveis 
e incontáveis