terça-feira, 25 de novembro de 2014

quero fechar todas as janelas
do meu corpo
e ficar só
não importa a paisagem
de fora
quero contemplar
o que vive dentro
insólito
enquanto danço
sozinha
de cortinas fechadas
de olhos
girando
em palavras
com meus vestidos rodados.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

borboletas

há borboletas
foto de Elena Helfrecht
presas
na parede do estômago
todas coloridas
envolto
ao meu corpo
dentro
borboletando
em cima
até os pés
voando
soltas
ou coladas
nas costelas
há algo
em meio
e por isso
escrevo
por não suportar os sonhos
de tantos em mim
há algo que precisa
sair
e voar fora
embolo
há muito
no entanto
escrevo
há algo de mim
que só nasce
por escrito.

canção marítima

dos mares que não provei
de tuas espumas brancas
e salgadas
serei todo o azul do mundo
na imensidão de tuas ondas
como água-viva
ou estrelas
que queimam em distâncias
na pele
serei apenas o momento
a instância do horizonte
serena e breve
a paisagem do mar aberto
em seus braços de som
e beleza. 
por toda sua música
rugido de fúria
como não
o mergulho?
sem medo
navego em tuas profundezas. 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

gosto de ler os anúncios
nos postes
esquinas
"jogo búzios
cartomancia
trago-te de volta
melhor do que era
e mais bonita"
a saudade de outrora
o santo batiza
rememora
traz logo
em velas acesas
e flores
num prazo de três dias
santo, santo
pra mim 
tua profecia
faz da rua
 poesia. 


insisto
e escrevo
vicio
sorrateiro
que tira-me o sono
como quem sente fome
da palavra
minto
e escrevo
tudo o que gostaria de soltar
mas hesito
releio
as páginas brancas
de tinta preta
marcas de café
no papel
amanheço
em silêncio
da pausa besta
calada
sou as reticências
da frase inacabada.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

esqueci o meu nome
sinto tê-lo perdido
na esquina de casa
no entanto
sinto-me muito mais
do que antes
sou-me
sumo
a toda ora
instante
não reconheço meu rosto
em espelhos
retratos
e estantes
perdi o meu nome
segredo
vivo um outro destino
paradeiro
daqueles que esquecem
intermitentemente o mais íntimo
de si
por um tempo
sem pressa
meu rosto
ocupa a cidade
toda
as ruas
e vivo nelas
todas pessoas
a velha do ônibus
a menina
a moça
para depois
reconhecer-me:
lembrar de um outro lado
o avesso, o resto
o meio
daquilo tudo que me nomeia
poeta

correr
até o limite
fundo
de tudo aquilo
que vive
inquieto
até os pés
cansarem
do chão
e voarem
na altura
de qualquer sonho
incerto
e sem medo
de tocar
o desconhecido
apenas correr
até o limite do corpo
comer vento
atravessar segundos
o próprio tempo
escorregar de si
e do outro
ser
correndo
virar alma
criar asas
ser o suspiro
sem passado
ou futuro
percorrer apenas
o momento
da eterna
viagem.

sábado, 8 de novembro de 2014

aos sonhos
de tantos desvarios
derramados
por seus olhos
sombrios
aos prantos
de cor
serei sombra
em qualquer morada
de paisagens
perdidas em redemoinhos
de minha mente
sem memória
ou dor
posto que passeio
limpa e clara
como página
vazia
sem impressões
por ora, sou
tinta branca
insólita
nova
toda crua.