segunda-feira, 27 de julho de 2015

há algo em mim
que eu só conheço quando escrevo
indecifrável mulher
desconhecida de si mesma
que és?
tomo a palavra em linhas
agulhas
numa cirurgia 
costuro sedenta
incessantemente toda
 minha poesia
de letras intermináveis
abertas
até encontrar o meu avesso
eu
que faço do verso
espelho
torno-me por fim 
completa

(,,,)



quando escrevo.











sábado, 25 de julho de 2015






Para Ana Cristina Cesar













(...)

ensaio
há algum tempo
a profundidade de um poema.


delirar
como um poeta
num rasgo de cólera
derramar 
palavras vertidas
sem censuras 
entre os dentes
a boca
a pele
nua
tatuada 
por desejos cegos
tocando o inefável medo
no escuro
navego e bebo
até a última gota
do gozo
espero
como quem atravessa o perigo
iminente 
de um corpo.






















https://www.youtube.com/watch?v=J-qoaioG2UA

terça-feira, 14 de julho de 2015



vi-me de repente morando numa ilha.
acordo com todo o azul do céu, que durante o dia varia pelas cores.
faço-me nas ruas envergonhada, mais sentimental do que nunca.
o vento daqui  canta alto, sobretudo à noite.
às vezes, quase sempre, chove.
observo os pássaros e imagino se suas asas correm para perto do mar.
lembro-me que moro numa ilha.
penso no que é estar cercada pela imensidão das águas
sorrio,
como é bonito isso:
morar numa ilha.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

26

envelhecer
em minhas palavras
assim como no meu corpo
tão solto
voando com meus pés de menina
retorno
ao sete anos com a roupa suja
mastigando jabuticaba
cuspindo o caroço
do alto do pé
vejo o mundo direto das copas
e os lençóis esticados
no varal
reluzem os meus desenhos
de sonhos
num papel encardido
imaginava-me adulta,
tão boba.
























https://www.youtube.com/watch?v=BlPNYWMA8Jc