terça-feira, 30 de junho de 2015

a memória
daquilo que não é passado
foge das gavetas
num presente arisco
revela-se
em meus olhos
no prazer inerente
do que nasce no encontro
das primeiras coisas
vistas de longe
por binóculos
fugidias do desconhecido
vácuo
dos sentimentos mais virginais
mergulho
para refazer-me
no aqui
e agora.

sábado, 13 de junho de 2015

da fome



Eu descobri que tem uma língua morando no meio do meu corpo. Serpente escamosa de fogo que queima desde a pele até os miolos. Devoro o mundo com a boca do estômago. Abro, mostro os dentes e mastigo. Faço escorrer o gosto pela saliva e engulo todo o mundo dentro de mim. Depois mostro a outra língua e sorrio. Está tudo bem. Sorrio fazendo a digestão de pequenos furacões furiosos. Mastigo pedaços de fome. Fecho os olhos. Abro os olhos, vejo a lua. Tudo gira. Agora é a vez de ser tragada, comida, virar sumo: é o mundo que também me mastiga. Nos comemos, nos beijamos em visões de órbitas desconhecidas. Acho que é festa, dançamos. Vou sumindo, flutuo. Abro os olhos de cima, lá do umbigo do mundo, minha serpente escamosa desliza, escorre súbita. Fecho os olhos. Fecho a boca. Absorvida. Escrevo. Escrever me é antropofagia.

segunda-feira, 1 de junho de 2015





a qualquer vulgaridade
que me toca
nessa ordinária vida besta
do mesmo 
gosto mais
do nada
reluzente 
procuro nas entrelinhas
do óbvio
a vulgaridade
do mundo
entre 
tudo aquilo 
que é gozo
e liberdade.