Fui educada para ser uma boa menina. Desde cedo nos ensinaram as diferenças entre as boas e as podres laranjas. Nos foi passado as maneiras de andar, falar e sentar. "É preciso manter as pernas fechadas e ter postura."
"Ninguém suporta faladeiras."
"Gostamos de sorrisos."
"Cara feia é de fome."
Tem quer ser bonita e bem penteada, sem muito cabelo ou pelo fora do lugar. "Que coisa feia uma menina tão bonitinha com a boca tão suja".
"E olha bem como se veste, nada de exageros".
"Não saia descoberta, assim não tem respeito."
Dizer não com os dentes cerrados por um sorriso engolido é negar a boa educação. Correr até o limite é quebrar o muro que edifica a "boa moça".
As "más filhas" escolhem os caminhos ainda inabitados. Ardem em suas próprias dúvidas diante do desconhecido.
Há ainda aquelas que se atiram no escuro dançando em furacões, e giram.
Porque a visão é afetada agudamente na pele. E o fedor de certas angústias engolidas por tantas bocas crescem em cada casa, sala de aula, ou recanto onde nada mais pode ser tapado. E por isso exala tóxico.
Encontramos os riscos de uma "má educação", a qual não aceita rédeas e que por isso muitas vezes se espatifa. E retorna, como uma "boa má educada". Segura e trêmula por suas quedas e voos.
Deliciosas vertigens.
É que eu desejo que as boas filhas cuspam o gosto do verbo para dizer "não" de forma pura, para que este salte dançando livre de suas línguas, a fim de perturbar as bocas, os ouvidos e os olhos tapados.