Para que o mundo me abra com suas mãos grandes e sedentas é necessário antes cuspir tudo aquilo me invade, ao mesmo tempo em que ele me segura e me levanta pela cintura, mostrando a sua boca escancarada.
Vou me desfalecer dissipando o grito de todo o corpo que geme, ouvindo o barulho vermelho do topo da boca do meu estômago que não a cala a boca, que vibra em toda a pele.
Sinos tocando, aqui tudo vibra e ressoa enquanto os lábios permanecem cerrados. Irei pertencer ao mundo me esvaziando ao máximo. Fluxos de ar contornam todos os meus órgãos e vou me dissipando vagarosamente em gritos de ar, sendo aberta em dores pelo mundo que me abre, me divide e me prova. Trata-se de uma diagnóstico maduro da demência:
transtorno - de - destorço- compulsivo. Sem - retorno - possível.
E vão me abrindo, me revertendo os órgãos sem permissão. Estão tentando fechar a boca do meu estômago, tentando colocar o coração no devido lugar. Mas alguém, por favor, pode avisar que não há remédio que dê beleza à matéria disforme? Porque o coração é parte de um todo que geme, pulsa e dilatada em toda a minha carne deformada e demente que luta obsessivamente - pela cura e não cura dessa anomalia.
E esse paradoxo não é um quadro reversível.
Acostumam-se (ou não) em encontrar o meu coração em minha orelha, no couro do cabelo, na lasca da unha ou no meu sangue mensal. É aqui que onde resido, pertenço. Não há plural: orelhas, cabelos ou unhas, posto que é um todo único e inseparável, matéria substancial de mim.
Sou a dilatação disforme daquilo que não se encaixa, de natureza apta ao deslize. Por isso passo, vagueio e não moro.
Continuam me invadindo as vias e me abrindo. Estou em estado de fluidez, correntes de ar me penetram pressão quase irresistível. É o mundo que bate e quer morar em mim.....
Devo permitir?