terça-feira, 28 de outubro de 2014

recolho-me às palavras
vivo
todos os meus ciclos
abertos em espirais
concretos no espaço
tempo
de todo o meu corpo
e letra
que tornam-se
quentes
juntos
todo o desejo
da alma
dos sonhos mais selvagens
que trago soltos
voando fora
cavalos ao vento
na estrada
longa
que percorrem
leves
quase ausentes
fantasmas
em passos de poeira
e eu
pasma
trêmula
distantemente


observo pelo lado de fora
o furacão intenso
que vivo
dentro.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

do amor ao verbo

quando a palavra
for solta
por minhas mãos
até a boca
despejarei poesia
em água
como fontes
doces
termas
das linhas
até a gargante
aberta
selarei breve
em pontos
vírgulas
de sonho
para tornar leve
o peso dos ombros


sentir deixar o corpo
e ser apenas
poema.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014


hesitar ao ler
qualquer verso
pela noite inteira
que de meus sonhos
se abre em lua
diante da janela

hesitar ao ler
e por isso respiro
aguardo o silêncio
anunciado pela madrugada

hesitar ao ler
confesso
ando mexida por estranhezas
escrevo

hesitar ao ler
as palavras
tão inevitáveis em meu paladar
ávido e seco

hesitar ao ler
e esperar a próxima página
enquanto admiro
o puro do branco
da folha vazia
e aberta.

é nessa imensidão
que mergulho.



segunda-feira, 20 de outubro de 2014

enquanto teus olhos horizontes
se abrem
para todo o mundo
consumo
o perto
sumo do presente
em fruto passado
pensando
em teu corpo
longe
e aberto
para as vistas
sinto
feito brisa ou frestas
de uma paisagem
deserta
distante
em meu pensamento
já de ti tão longínquo
perdido e incerto
sem tua bússola.



é preciso antes
todo o silêncio
para sentir
o estrondo
do voo.

domingo, 12 de outubro de 2014


eu
minha metade
ou toda
inteira
talvez não tenha
mudado

sigo ainda
a figura taciturna
dos velhos retratos

a dança cega
que de desejo
se faz melodia
da palavra
que persiste
e caminha
pelos poros
em arrepio.

o estorvo
a loucura
tempos remotos
daquele poeta
que tapou-me os lábios
com tuas mãos
sujas de tinta

em meu corpo
por tua caneta
por ora
tatuado
esqueço
teu nome
e o verso
de outrora
fazendo-se
mudo
passado
com os anos

e eu
escorregadia
vacilante
perdida
em minha
memória
entrego-me
aos meios
inícios e finais
de nossa
já empoeirada
história.




quinta-feira, 2 de outubro de 2014

vem outubro
e a melancolia
de outrora
cubro
disfarço
na aurora
do riso largo
amanhecendo
junto ao azul
do dia
que no seu fim
clareia na lua
dos escorpianos
é outubro
que chega
anuncia
o prenúncio
do calor
dos corpos noturnos
desvairados na noite
e seu brilho
festa na rua
samba de esquina
o copo sem dono
perdido
é outubro
que em teus lábios
pronuncia
o princípio
do veraneio
bandido