mergulho novamente
aos caos,
como se precisasse sempre, a cada renovação, partir ao encontro da desordem
novamente,
o ritornelo que agora só é eco,
o canto já foi
apenas ecoa,
a garganta inflamada dificulta a passagem do ar e o desejo de pegar nos livros,
tomo café,
recolho os pedaços de memória que me fazem,
aquilo tudo que chamo de sou.
quebro-me constantemente para ser
voltar
ser de novo, ou nova.
reconstruo o espelho pelas beiradas até chegar ao centro de minha face
eu: estranha miragem
perdida no espaço tempo
boca entreaberta
com gosto de café
lembro das pessoas que amei, e penso se ainda permanecem, em algum lugar do corpo
para onde foram, todas, todos?
entro em mim própria
ainda mais dentro
isso é possível?
corro
dentro até o meio,
se pudesse me desenhar começaria pelos pés,
corro
para ainda mais dentro, navego em minhas mais pequenas memórias: vou até os sonhos de criança. De repente estou ali, deitada na grama, passo minha pele de fininho no verde e espeto,
poro por poro.
vejo as formigas caminhado, faço uma barragem com uma pedrinha
lembro de minha vó,
Mirela desce daí, você vai quebrar a perna desse jeito
do ovo de gema mole, do sorriso. do cafuné
do amor que não passa.
sabe vó, às vezes eu ainda sou aquela menina
que nadava cachorrinho no ribeirão,
eu sinto falta dela, também.
corro
lembro do meu primeiro amor, de escola
quando os nossos braços quase encostavam
no recreio
volto a quebrar os pedaços para me encontrar depois
bêbada
anos mais tarde. falando comigo mesma
diante do espelho
corro
mais fundo, e já me vejo escrevendo.
desde ontem
ou sempre
aqui estou, no centro do furacão
escrevendo,
corro
mais profundo
estou dançando no escuro, sozinha
a solidão que me faz reconhecer
para outra
que também sou
sai pela memória em outro lugar
corro
mais rápido que posso
seria o retorno de saturno?
o que me atravessa brutalmente em memórias
devaneios
não posso confundir o real do sonho
corro
e vejo agora as paredes todas brancas,
seria minha alma?
são como almofadas
passo-me
como se pudesse pintar com minha pele toda a sua branquidão
a minha cor
que já passou por tantos lugares
tanta gente
escrevo
pinto, e escrevo,
deixo o meu rascunho lá
o espelho se recompõe em outras formas
lembro de Ouro Preto,
segundo lugar de nascimento
dos meus mais belos anos,
sou o que escolhi,
ser?
pergunto pra menina que nadava cachorrinho
que me olha com olhos gigantes
engraçado é lembrar de como a gente se imaginava
adulto.
não me arrependo,
respondo para ela,
sorrimos,
ela segura a caneta
e me lembra:
quando perco os pés, e as referências todas
acá estou
entre o verbo e o peito,
e as as reticências
das letras
todas abertas,
sendo
o que sou.
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