quarta-feira, 30 de setembro de 2015

às vezes, eu escrevo só para lembrar
enquanto escrevo
para esquecer o que lembro.
existem paisagens que moram no útero
da alma?
e se eu visse o seu interior
sempre
naquilo que é mais fundo
nascendo novamente
de sua alma eterna
grávida
de tantos desejos
no vermelho de teus fluidos
mergulhar
em suas águas
ou se apenas mastigasse
o gosto
de tuas flores, gramas
para depois,
calmamente
repousar
por em seus ossos
montanhas
e esquecer-me, então,
por lá
bem dentro
do teu corpo.

terça-feira, 29 de setembro de 2015


poeta,
o que posso eu
senão, amar?
não há bens em meu nome,
não tenho livros escritos,
nem mesmo árvores por minhas mãos plantadas.
minha casa
é onde estou
e quando:
nos poemas escritos
sem destinatários
atravesso um dos caminhos
para entregar
quem sabe?
um leitor distraído
para bater em sua morada
na viagem interminável
que teimo em traçar:
de não ter para ser
de partir para estar
sempre
ao seu lado,
poeta.

Para Carlos Drummond de Andrade

domingo, 20 de setembro de 2015

não tenho medo
é apenas a vertigem
que me atravessa a saia e a mente
girando
vejo o mundo por dentro
dos olhos fechados
na festa
embriagada por minha própria existência
gostaria de cerrar as pálpebras
e dormir
mas é quando tudo vive
no alto do noite
sem nome,
já não sou eu mesma
sonâmbula
danço comigo
e com a lua
cada qual, mais distante que a outra
tão juntas
enquanto se amam.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

não houve pausa
só silêncio,
e tudo se movimentava dentro. 

acordei
tocada pela nostalgia
de um sorriso bobo
que trazia comigo
ainda menina
quando a realidade
era apenas sonho
tempo outro
que teimo em lembrar
em dias desse
tão duros
cheios de poeira do passado
presente
sorrio apenas
para lembrar no corpo
o gosto
daquele tempo outro
para abraçar a menina
que fui
e dizer
a vida é besta,
segue menina
vá sozinha
toda inteira.
e numa amizade íntima
nos despedimos para seguir
ela, em teu passado
e eu, que na vida besta,
continuo seguindo
com meu sorriso bobo.



quarta-feira, 9 de setembro de 2015

se eu mapeasse
os ínfimos códigos
que navegam no caminho
dos nos olhos
atravessaria os mares
para morar em sua ilha



(...)


mas é impossível mergulhar
sem molhar a pele
e farta de terra e superfícies
apenas miro-te
nos ínfimos códigos que navegam
no caminho
dos nossos olhos.

sábado, 5 de setembro de 2015

atenta aos gestos
meticulosa
meço
as distâncias das pausas
no caos
da dança
do meu corpo
com o mudo
salto
caminhando sem rotas
ou avisos
desculpe-me o desvio
o retorno
a fuga
ou qualquer falta de juízo


(...)

à deriva,
solta
descubro a pele da vida
sem mapas.