domingo, 20 de maio de 2012


Vê que agora se aproxima das linhas que se cruzam e se interligam, das cores inatingíveis, perto da batida que é potência, que te faz vida. E como tudo se mistura, meu deus, o que é isso? Quantas cores, Qual é a violência da batida da cor que gruda em meu corpo, que nasce de onde não conheço? Por que não consigo ver se a toco? Ou não toco? Porque parece tão inapreensível. Me deram duas mãos que não conseguem chegar ao que, de fato, querem tocar. Me deram olhos que vêem o inatingível, me deram um buraco de forme insaciável. Muitas minhocas na cabeça e pouco estômago. Vestiram-me de muitas cores e me botaram pra rodar: rodando, rodando, rodando. ânsia. Serviram-me de tudo, me cobriram de beijo e agora afago o cão e sinto pena de sua condição, como se fosse superior. Eu superior? Se não dou conta do buraco de fome, se não sei tocar o que olho. Se passo fome diante da comida.
 Qual é o meio onde se encontra? Não há meio porque falo da totalidade indivisível, que é como um deslize para dentro. Para o intro nunca tocado. Um lugar habitado por todo o silêncio da existência.  Gire, gire, gire.
Tombo. Por que treme? Não esquece que tem o seu nome, toda a sua prisão. É por isso que não vai, por isso a tontura. Gira pelo seu nome que já não conhece, por isso não volta o rosto para quem chama. Tudo bem, falta pouco. Não percebe? Chega perto agora do embolo da teia, o coração. Não escuta a batida, como pulsa forte? Impossível distingui-la de seu corpo, do seu passo, do seu ritmo. Vocês são a potência, a mesma, e essa é a fatalidade do ser. Seu nome pulsa no miocárdio. Cale o giro, respire a batida. Esqueça de seu nome. Sinta a sua música.  Isso que não se chama, que não se aprisiona.  Erva que multiplica por todos os rastros. Isso que só se sente pelo mergulho, aquilo que te faz em essência, quando o medo não é suficiente para te afastar daquilo que te pertence, que mora atrás de seu rosto. Perto do coração bate a cor vermelha, porque visita o seu próprio sangue. Se encontrar é como se cortar para ver a si próprio. Conhecer todas as cores que habitam o cerne, experiência que só existe pelo sonho? Como calar o grito do coração? Caindo em direção ao intro nunca tocado, no abismo da alma.

escutando I Will - Radiohead

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