quinta-feira, 31 de maio de 2012

Labor



Esse é um trabalho realizado pela Cia Mar de Leite, que foi apresentado na Semana de Artes da UFOP e no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana 2011.
É com imenso carinho que deixo disponível aqui no blog.

Atuaçâo: Camila Duarte
Direção: Bárbara Carbogim
Dramaturgia: Mirela Ferraz
Música: Álvaro Romão
Vídeo: Leo Lopes

domingo, 20 de maio de 2012


Vê que agora se aproxima das linhas que se cruzam e se interligam, das cores inatingíveis, perto da batida que é potência, que te faz vida. E como tudo se mistura, meu deus, o que é isso? Quantas cores, Qual é a violência da batida da cor que gruda em meu corpo, que nasce de onde não conheço? Por que não consigo ver se a toco? Ou não toco? Porque parece tão inapreensível. Me deram duas mãos que não conseguem chegar ao que, de fato, querem tocar. Me deram olhos que vêem o inatingível, me deram um buraco de forme insaciável. Muitas minhocas na cabeça e pouco estômago. Vestiram-me de muitas cores e me botaram pra rodar: rodando, rodando, rodando. ânsia. Serviram-me de tudo, me cobriram de beijo e agora afago o cão e sinto pena de sua condição, como se fosse superior. Eu superior? Se não dou conta do buraco de fome, se não sei tocar o que olho. Se passo fome diante da comida.
 Qual é o meio onde se encontra? Não há meio porque falo da totalidade indivisível, que é como um deslize para dentro. Para o intro nunca tocado. Um lugar habitado por todo o silêncio da existência.  Gire, gire, gire.
Tombo. Por que treme? Não esquece que tem o seu nome, toda a sua prisão. É por isso que não vai, por isso a tontura. Gira pelo seu nome que já não conhece, por isso não volta o rosto para quem chama. Tudo bem, falta pouco. Não percebe? Chega perto agora do embolo da teia, o coração. Não escuta a batida, como pulsa forte? Impossível distingui-la de seu corpo, do seu passo, do seu ritmo. Vocês são a potência, a mesma, e essa é a fatalidade do ser. Seu nome pulsa no miocárdio. Cale o giro, respire a batida. Esqueça de seu nome. Sinta a sua música.  Isso que não se chama, que não se aprisiona.  Erva que multiplica por todos os rastros. Isso que só se sente pelo mergulho, aquilo que te faz em essência, quando o medo não é suficiente para te afastar daquilo que te pertence, que mora atrás de seu rosto. Perto do coração bate a cor vermelha, porque visita o seu próprio sangue. Se encontrar é como se cortar para ver a si próprio. Conhecer todas as cores que habitam o cerne, experiência que só existe pelo sonho? Como calar o grito do coração? Caindo em direção ao intro nunca tocado, no abismo da alma.

escutando I Will - Radiohead

sexta-feira, 11 de maio de 2012

besteira cotidiana


Foi instantâneo, assim como o pó de café que acabei de dissolver na água fervente. Na tentativa de me manter acordada, e como já tinha tomado o café depois do almoço, resolvi procurar um capuchino, ou um mate pra ficar mais ativa. Tudo tinha acabado, aí vejo um pó de café desses rápidos.
Pronto, cai a chuva. O café de gosto ruim que me lembrou a sua empolgação infantil, de uma tarde de expectativa,  quando você tinha acabado de comprar a praticidade embalada: “Isso é pra gente tomar lá em São Paulo, isso é pra viagem”!  Naquele meio tempo, choveu,  molhando tudo o que tava seco, árido e empoeirado.  A gente se acostuma a viver com a ausência, com a falta.  A gente trabalha, estuda, viaja, se apaixona, desapaixona, conhece pessoas,  e pensa que tá tudo seco. Mas a lacuna fica lá, onde menos se espera, calada em pausa de espera.
E quando ela grita, como nesses momentos bestas, a gente se surpreende e fica bobo de ver como o seco vira lama, argila,  que a gente esculpe e coloca na varanda pra secar bonito com o sol.


para dona Fátima

terça-feira, 8 de maio de 2012


J'habite la chair
qui je ne peut pas s'appeler ma
pourquoi?
je ne sais pas
peut-être parce que si elle était ma
je serais la chair
deux corps dans un
un corps dans deux
sans un début
sans fin.

domingo, 6 de maio de 2012

Pombo correio

queria agora que houvesse um sopro de flor,
como canto baixo
seja de quem for
um sussurro leve
brisa quente
que entregue
um cheiro breve
daquele foi
pra aquele que ficou
murmúrio doce
e alegre
de uma carta postal pendente
timbrada com calor.