segunda-feira, 25 de julho de 2011

Deram-me pela metade
e sem nome.
Dei banho,
acarinhei.
Fiz de tudo para o bem
com tal zelo
e respeito
que já me sentia parte
daquele estranho sentimento,
que a mim chegou tão imundo
repleto de vergonha,
com sujeira do mundo.

Era feio
mal medido
não cabia
em nenhum corpo.
Mas em mim
vestia,
dava,
servia.

E feito roupa folgada,
que se acerta num remendo
Vi-me, enfim, prestada a esse contentamento,
uma mãe que renega seu rebento,
batizo-te:
como lamento.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

para Leo

Através de seus olhos-lentes
Voto a olhar uma coisa que às vezes me passa tão despercebida:
a vida.
Os meninos,
as rugas,
as velhas,
as veias,
são gente..
Os caminhos em preto e branco,
colorem a evidência,
do mais íntimo presente que nos é dado,
O dom da existência.

terça-feira, 19 de julho de 2011

para Paulinho, Bárbara, Marcelo e Tinho

minha indecisão é como os cortes de meus cabelos, curtos e desencontrados. Meus traços são todos rasgados, aí mora a confusão. Eterno exercío de ser ou não ser ...
Vivendo em espirais, respirando as montanhas e o mar. Desgatando- ao máximo. Equilibro-me sempre entre o ir e vir, degustando as minhas escolhas até o limite insuportável da dor e do prazer. Assistindo-me nesse devir de autoconstrução sinto pena, mas é isso. Não há fuga. E agora identifico-me com as pedras de Michelangelo, uma figura da matéria da e da natureza, a alma neoplatônica presa em um corpo-pedra. Na luta contra os medos invisíveis, escupol-me...eternamente.
Não sou Hamlet.
Não sou Ofélia.
Sou escultura.

domingo, 10 de julho de 2011

Os prédios e as janelas estão me espionando. É impossível escrever poesia,são tantos olhos de concreto que me assistem. Ando meio tímida. Por isso agora é prosa. Não cubro-me mais com versos, estou cada vez mais despida por ruas e travessas, carros e avenidas.Porém, há alguém do outro lado. Esperamos na cidade. Eu o espero e ele me espera, invisíveins um ao outro.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

para qualquer leitor disperso

Depois de tanto tempo sem escrever, vim para confimar a razão de tudo isso. Estou engasgada. Taparam-me e só agora me dei conta. Há muito de mim que está fora, que não se encontra. Transbordo. Estou do outro lado, talvez à margem. O lugar ora é bonito, ora é feio. De vez enquando há música, minto é ruído,é barulho. Mas isso não quer dizer que não seja música, certo? A verdade é que os meus ouvidos precisam ser domesticados, como cavalos. Preciso domesticar-me. Aprender; Preciso estar apta para escutar a música. Calo-me, mas nada é quieto. Os sons são cada vez maiores, barulho surdo, surto. Escuto o sangue que me percorre, o ar que me atravessa.
Trasbordo, estou além. Vejo-me tão longe... Estou lá e cá, entende? Sou capaz de acenar para mim mesma desse outro lado. Dispersei-me em minha imagem, nesse corpo que fui e que sou. Mas como dói dizer: sou. Estou sendo, não há nada pronto. É um ensaio, uma série de rabiscos tortos que jamais se encontram, já que eu não sou um desenho. Estou sendo eu sou o quando, não há nada pronto. Talvez não seja bonito, mas não posso afirmar isso, porque o próprio barulho é música. Escrevo porque engasgaram-me, sei disso porque ainda sinto o cheiro de estranhos em meu pescoço.Mas foi concentido, ou melhor, foi uma dispersão de minha parte.Porque as gotas de todos os instantes caíam diante de meus olhos durante o engasgo, mas a música era boa. Assim como esse lugar ora é feio, ora é bonito. Assim como a todo momento me abraço para dentro dentro de mim. Assim como estou sendo e torno-me quando.
E os meu ouvidos agora são cavalos,
Ámem