domingo, 3 de setembro de 2017

me meto a escrever
meto-me
fora de rima, métrica
apenas, me meto a escrever
escrita, assim quase sempre inacabada
rarefeita
mas me meto,
talvez por encontrar nas palavras
refúgio ou antídoto para vida
meto-me
quando algo estranho me atravessa
os nervos, a pele, página
vira escrita, toda, sempre,
porque meto-me
toda
metida em meio às palavras,
por ali me encontro
perdida
porém, habitada.
não há paradeiro
para o desejo
ou a espera que carrego no espaço que vai da janela
ao horizonte
ensejo
vejo as montanhas e as percorro
com o corpo todo
correndo
de minha miragem ao vento
meus olhos atravessam o sol
não mais distante que a paisagem
nem tão perto quanto a brisa
que sussurra gentilmente em meus ouvidos
é a espera desejosa e secreta
habitante de minha alma  nômada
porque sou também
cavalo selvagem
negro
quando secretamente navego
a beleza das íntimas distâncias.